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segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

OPERAÇÃO CHUMBO IMPUNE


"Resta pouca Palestina. Passo a passo, Israel a está apagando do mapa"


OPERAÇÃO CHUMBO IMPUNE
Eduardo Galeano. Brecha/Rebelión 17/01/2009.

Para justificar-se, o terrorismo de Estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe dissimulação. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo seus autores quer acabar com os terroristas, conseguirá multiplicá-los.
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Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Têm perdido sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Sequer têm o direito de eleger seus governantes. Quando votam em quem não devem votar, são castigados. Gaza está sendo castigada. Transformou-se numa ratoeira sem saída, desde que Hamás ganhou de forma limpa as eleições de 2006. Algo parecido havia ocorrido em 1932, quando o Partido Comunista triunfou em El Salvador. Banhados de sangue, os salvadorenhos expiaram sua conduta má e desde então foram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.
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São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes de Hamás, encurralados em Gaza, disparam com uma atrapalhada pontaria sobre as terras que haviam sido palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E o desespero, à beira da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a bem eficaz guerra de extermínio está negando, há anos, o direito de existência da Palestina.
Resta pouca Palestina. Passo a passo, Israel a está apagando do mapa.
Os colonos invadem e, atrás deles, os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacramentam a expropriação, em legítima defesa.
Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia pata impedir que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para impedir que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel tragou outro pedaço da Palestina, e os almoços continuam. O devorar se justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu e pelo pânico que geram os palestinos ao ficaram na espreita.
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Israel é o país que jamais cumpre as recomendações e as resoluções das Nações Unidas, que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, que burla as leis internacionais e é também o único país que legalizou a tortura de prisioneiros.
Quem lhe deu de presente o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com a qual Israel está executando a matança de Gaza? O governo espanhol não poderia bombardear o Pais Basco para acabar com a ETA, nem o governo britânico poderia ter arrasado a Irlanda do Norte para liquidar o IRA. Acaso a tragédia do holocausto implica em apólice de eterna impunidade? Ou esta luz verde vem da potência que mais manda e que tem em Israel o mais incondicional de seus vassalos?
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O exército israelense, o mais moderno e sofisticado do mundo, sabe quem está matando. Não mata por erro. Mata por horror. As vítimas civis são chamadas de danos colaterais, segundo o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, de cada dez danos colaterais, três são crianças. E somam milhares os mutilados, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está ensaiando com êxito nesta operação de limpeza étnica.
E, como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Por cada cem palestinos mortos, um israelense.
Gente perigosa adverte outro bombardeio a cargo dos meios de manipulação de massa, que nos convidam a acreditar que uma vida israelense vale tanto quanto cem vidas palestinas. E esta mídia também nos convida a crer que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Irã foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.
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A chamada comunidade internacional existe?
É algo mais do que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? É algo mais do que o nome artístico que os Estados Unidos colocam a si mesmo quando fazem teatro?
Diante da tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial brilha mais uma vez. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações altissonantes, as posturas ambíguas prestam tributo à sagrada impunidade.
Diante da tragédia de Gaza, os países árabes se lavam as mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos.
A velha Europa, tão capaz de beleza e perversidade, derrama algumas lágrimas, enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caça aos judeus foi sempre um costume europeu, mas há meio século esta dívida histórica está sendo cobrada dos palestinos, que também são semitas e que nunca foram, nem são, anti-semitas. Eles estão pagando, em sangue à vista e sonante, uma conta alheia.
Esta matéria é dedicada a meus amigos judeus assassinados pelas ditaduras latino-americana que Israel assessorou.

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