Khalid Amayreh Rebelión 26/12/2008.
Ninguém se entusiasma com a última escalada da violência em Gaza, à exceção, talvez, dos que apóiam a guerra em Tel Aviv e dos traidores árabes e palestinos, respaldados pelos estadunidenses, que fariam qualquer coisa e chegariam a qualquer extremo para agradar seus amos em Washington.
No interior de Israel, a Faixa de Gaza está se tornando uma questão eleitoral central em um país profundamente ameaçado pelo extremismo político e religioso.
Os dirigentes políticos de Israel de direita e de esquerda já estão prometendo à opinião pública judaica que destruirão Gaza e assassinarão um sem número de pobres moradores da Faixa caso sejam escolhidos nas eleições de 10 de fevereiro.
Citou-se Tzipi Livni, dirigente do partido Kadima, afirmando, no domingo 21 de dezembro, que, caso viesse a ser a próxima Primeira-Ministra de Israel, destruiria o governo de Hamás em Gaza utilizando meios militares, econômicos e diplomáticos.
Outros dirigentes israelenses têm feito afirmações semelhantes que, de fato, evidenciam os instintos canibais e as tendências patrióticas dos quais está impregnada a maior parte da sociedade judaica israelense. Afinal, a experiência mostra que quanto mais racista, mais criminoso e mais virulento for considerado um determinado político israelense, mais chances ele tem de ser eleito. Por outro lado, um político israelense que defenda um enfoque humano em relação aos palestinos, como, por exemplo, pedir que se levante o bloqueio semelhante às táticas nazistas impostas a um milhão e meio de inocentes moradores da Faixa de Gaza, estará cometendo um suicídio político. Este político seria imediatamente chamado de "judeu que odeia a si mesmo", "amante de Hamás" ou, até mesmo, de "nazista".
Este contexto é essencial para entender a atual situação em Gaza, já que a descomunal máquina de propaganda israelense quer nos fazer crer que Israel é a vítima da agressão e que os palestinos são os agressores.
Israel afirma até a náusea que o bloqueio à Faixa de Gaza, semelhante às táticas nazistas e uma descarada violação do direito internacional, é em resposta ao lançamento por parte das guerrilhas de Gaza de projeteis caseiros geralmente inofensivos, conhecidos pelo nome de Qassam.
Esta não passa de uma mentira sem precedentes. O bloqueio israelense à Faixa de Gaza começou logo depois que Hamás ganhou as eleições legislativas em janeiro de 2006 e seu objetivo principal é castigar, tanto quanto seja internacionalmente aceitável, o povo de Gaza e os palestinos em geral por ter escolhido um governo que não agrada Israel.
E tem mais. Na época, alguns dirigentes israelenses admitiram que Israel queria pôr à dieta os palestinos, um eufemismo que marcava a subseqüente e contínua política israelense de matar de fome e atacar sem piedade o povo de Gaza numa forma bem parecida à adotada pelos nazistas no Gueto de Varsóvia em 1942-43.
Determinados a sobreviver apesar de um mundo intencionalmente cruel que prega o respeito aos direitos humanos enquanto ceifa vidas humanas, os moradores da Faixa de Gaza apelaram a todas as pessoas do globo que quisessem ouvi-los, mas foi tudo em vão.
Isso foi só depois que ficou claro que Israel está diabolicamente determinado a destruir a Faixa de Gaza e seus moradores através de um lento processo de extermínio, quando os moradores da Faixa começaram a disparar estas armas profundamente psicológicas que causam bem poucos danos e raramente causam vítimas entre os israelenses.
Em junho [2008] Hamás chegou a deter todos os "atos beligerantes e as hostilidades" contra Israel em troca da reciprocidade israelense e do fim do hermético assédio à Faixa que está destruindo a economia de Gaza e causando a morte de centenas de pessoas inocentes. [De acordo com fontes médicas palestinas, de junho ao início de dezembro de 2008, o número de moradores da Faixa mortos em conseqüência do embargo israelense chegava a 271 pessoas].
Contudo, no lugar de negociar com boa vontade o acordo mediado pelo Egito, Israel nunca levantou o assédio e nem permitiu que os pontos de atravessamento das fronteiras voltassem a ser abertos.
Nas palavras de um jornalista de Gaza, Israel recorreu à política de "estrangular Gaza até praticamente matá-la" impedindo que entrassem em Gaza a maioria dos gêneros de primeira necessidade, de material médico-hospitalar a alimentos.
Mais concretamente, desde 19 de junho, dia em que começou a trégua, até 19 de dezembro, em que acabou, Israel violou o acordo de cessar-fogo várias vezes e matou 49 palestinos.
Durante esse período as facções palestinas em Gaza não mataram um único civil israelense. Portanto, alguém sempre deveria se perguntar o que se supõe devem fazer as autoridades palestinas em Gaza quando Israel está lhes dizendo com os fatos que só têm duas opções: agonizar até a morte em conseqüência de um assédio criminoso ou serem assassinados e dizimados pelo exército de ocupação israelense.
Alguns meses atrás, este escritor desafiou um rabino da Cisjordânia a pedir ao seu governo que acabasse com o assédio à Faixa de Gaza e permitisse uma atividade econômica normal entre Gaza e o resto do mundo. Assegurei-lhe que se Israel desse este passo, seriam detidos todos os ataques e atividades hostis contra os assentamentos israelenses que cercam este território costeiro. Como era de se esperar, o governo israelense rechaçou a proposta e disse laconicamente ao rabino que respeitava seus esforços.
Infelizmente, permite-se a Israel continuar fazendo passar fome e matando os habitantes de Gaza graças a um mundo hipócrita cujos dirigentes continuam dizendo a Israel que "tem direito a se defender" ao passo que ignoram completamente que também os palestinos têm, pelo menos, o mesmo direito à vida e à dignidade humana.
Quantos dirigentes ocidentais tiveram o valor moral de visitar Gaza e constatar em loco o holocausto em câmara lenta? Quantos dirigentes ocidentais se atreveram a expressar o politicamente inofensivo ainda que equilibrado ponto de vista pelo qual Israel deveria levantar o assédio à Faixa de Gaza e então os palestinos acabariam com seus praticamente inócuos ataques a Israel?
Por que Tony Blair diz a Israel que tem o direito de bombardear Gaza? Acaso desconhece a existência de um milhão e meio de seres humanos forçados a viver uma situação que não é muito diferente daquela que muitos judeus europeus tiveram que enfrentar décadas atrás?
E, o que acontece com Sarcozy que afirma representar a tolerância ocidental? O que está acontecendo com os chefes de Estado da União Européia? Acaso assistem de camarote como o povo da Faixa de Gaza é brutalmente atacado e assassinado pelo crime contra a humanidade também conhecido como Israel?
Sucumbiram à cegueira e à insensibilidade moral perante um Estado malvado que afirma ser luz entre as nações enquanto pensa, age a atua de uma maneira bem parecida à do Terceiro Reich?
Pois bem, todos eles deveriam se envergonhar. A História não será amável com vocês.
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