ABBAS AJUDA ISRAEL A ENTERRAR SEUS CRIMES DE GUERRA.
Ali Abuminah. The Electronic Intifada/Rebelión 04/10/2009.
Quando parecia que a Autoridade palestina em Ramallah e seu líder Mahmoud Abbas não podiam ser ainda mais baixos em sua cumplicidade com a ocupação israelense da Cisjordânia e com o criminoso bloqueio à Faixa de Gaza, Ramallah assentou outro duro golpe contra o povo palestino.
A delegação de Abbas diante das Nações Unidas em Genebra (que representa oficialmente a moribunda Organização para a Libertação da Palestina) retirou seu apoio a uma Resolução que pedia ao Conselho de Direitos Humanos de remeter o informe do magistrado Richard Goldstone sobre os crimes de guerra em Gaza ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para que este tomasse ações concretas. Ainda que a Autoridade Palestina tenha agido sob pressão dos EUA, há fortes indícios de que os interesses comerciais dos palestinos e dos empresários do Golfo, estreitamente vinculados a Abbas, jogaram também um papel importante.
O informe Goldstone, de 575 páginas, usa documentos impactantes para evidenciar os crimes de guerra e os crimes de lesa humanidade cometidos por Israel durante o ataque do inverno passado na Faixa de gaza, matando 1.400 palestinos, a grande maioria não-combatentes, sendo centenas deles crianças. O informe acusa também o movimento palestino de resistência, Hamás, de crimes de guerra por disparar foguetes contra Israel que mataram três civis.
O informe Goldstone foi elogiado como um marco por palestinos e defensores da justiça no mundo inteiro e pede que os suspeitos sejam levados perante os tribunais internacionais a fim de serem julgados em suas responsabilidades, caso Israel se recuse a processá-los. Em toda a sua história, Israel nunca cobrou responsabilidades de sues líderes políticos e militares por estes cometerem crimes de guerra contra os palestinos.
Completamente aterrorizado pelo informe, Israel tem mobilizado todos os seus recursos diplomáticos e políticos para desacreditá-lo. Nos últimos dias, o Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu afirmou que se o informe for aprovado seria “um duro golpe à guerra contra o terrorismo”, e “um golpe fatal ao processo de paz, porque Israel não vai poder tomar medidas adicionais e assumir riscos para a paz quando se nega o seu direito de autodefesa”.
Como era de se esperar, a administração Obama é um dos aliados na campanha pela impunidade israelense, pois sua embaixadora, Susan Rice, disse ter “graves preocupações” a respeito do informe e chamou as indicações de Goldstone de “desequilibradas, parciais e fundamentalmente inaceitáveis”. (Rice estava sendo fiel à palavra dada em abril, quando disse à revista ‘Político’ que uma das principais razões da administração Obama para unir-se ao Conselho de Direitos Humanos era de lutar contra o que chamou de “lixo anti-Israel”).
Goldstone, cuja filha considera o pai como um sionista que ama Israel, é um ex-juiz da Suprema Corte da África do Sul e um jurista internacional muito respeitado. Foi ele o fiscal chefe perante os tribunais de crimes de guerra das Nações Unidas para Ruanda e a ex Iugoslávia.
Não há dúvidas de que o informe Goldstone foi um duro golpe à habilidade de Israel de cometer crimes de guerra e permanecer impune; essa semana, impulsionados pelo informe, advogados do Reino Unido pediram a um tribunal a emissão de uma ordem de detenção pela visita do ministro da defesa israelense Ehud Barak. Esta ação não teve êxito, mas, nos últimos meses, o governo de Israel tomou medidas extraordinárias para tratar de proteger seus membros da justiça, por temer que o início de suas detenções em países estrangeiros fosse só uma questão de tempo. Junto à crescente campanha internacional de boicote, retirada dos investimentos e sanções, o medo de acabar no tribunal de Haia parece ser a única coisa a fazer com que o governo e a sociedade israelense reconsiderem seu caminho de destruição.
Neste contexto, seria de esperar que os que são descritos como representantes do povo palestino não deixariam de aproveitar desta arma; contudo, de acordo com o embaixador de Abbas, Ibrahim Khraishi, a Autoridade Palestina de Ramallah retirou seus esforços diante dos pedidos estadunidenses porque “Não queremos criar um obstáculo para eles”.
A desculpa de Khraishi de que a votação da resolução vai ser só adiada até a primavera [final de março] não é aceitável. A não ser que se tomem medidas agora, o informe Goldstone será enterrado, e até então, as provas dos crimes de guerra de Israel – necessárias para as ações judiciais – podem ser mais difíceis de recolher.
Isso ocorre a menos de duas semanas desde que Abbas apareceu na cúpula de Nova Iorque com o presidente dos EUA Barack Obama e Netanyahu, e na qual Obama retirou o pedido a Israel de deter a construção de assentamentos judaicos nos territórios palestinos ocupados. Também sob pressão dos EUA, a Autoridade Palestina retirou seu compromisso de não retomar as negociações a menos que a construção dos assentamentos fosse detida, e aceitou tomar parte destas “conversações de paz” com Israel mediadas pelos Estados Unidos. Por sua vez, Israel anunciou planos para construir na Cisjordânia o maior assentamento desde 1967.
O que torna isso ainda mais irritante é a possibilidade real de que a Autoridade palestina esteja ajudando Israel a lavar as mãos do sangue inocente derramado em Gaza em troca de ganhos financeiros de empresários fortemente vinculados a Abbas.
No dia 1º de outubro, o jornal The Independent (do Reino Unido) informou: “Shalom Kital, assessor do Ministro da Defesa Ehud Barak, disse hoje que Israel não liberará uma freqüência de rádio solicitada há tempo pela Autoridade Palestina para permitir o lançamento de uma segunda empresa de telefonia móvel, a não ser que a AP deixe de pressionar para que soldados e oficiais israelenses acabem no banco dos réus pela operação israelense”. (Em “Os palestinos chamam de ‘chantagem’ a ameaça israelense sobre o serviço de telefonia”, The Independent, 1º de outubro).
Kidal acrescentou que era uma “condição” que a Autoridade palestina retirasse seu apoio ao avanço do informe Goldstone. Em abril deste ano, a companhia telefônica Wataniya foi descrita pela Reuters como uma “companhia respaldada por Abbas”, uma empresa de capital conjunto do Qatar, de investidores do Kuwait e do Fundo de Investimento Palestino do qual é membros um dos filhos de Abbas. Por outro lado, a Reuters revelou que, ao que parece, a nova empresa tinha pouco capital porque os investidores do Golfo recebem milhões de dólares de “ajuda dos EUA em forma de garantias de empréstimos destinados aos agricultores palestinos e de outras pequenas e médias empresas” (Ver “Ajuda dos EUA vai à empresa telefônica palestina respaldada por Abbas”. Reuters, 24 de abril de 2009).
Apenas um dia antes de a delegação de Abbas retirar sua resolução em Genebra, Nabil Shaath, “Ministro das Relações Exteriores da AP”, chamou de “chantagem” a ameaça israelense em relação à Wataniya e prometeu que os palestinos nunca iriam aceitá-la.
A traição da Autoridade palestina em relação ao povo palestino sobre o informe Goldstone, bem como a continuidade de sua “coordenação de segurança” com Israel para suprimir a resistência e a atividade política na Cisjordânia, deve acabar com toda dúvida de que se trata de um braço ativo da ocupação israelense, que produz um dano tangível e crescente ao povo palestino e à sua justa causa.
MAIS UMA TRAIÇÃO DA AUTORIDADE PALESTINA
Khalid Amayreh. Palestine Think Tank/Rebelión 08/10/2009.
A decisão da Autoridade Palestina (AP) de adiar até março o voto sobre o “informe Goldstone”, no Conselho para os Direitos Humanos das Nações Unidas (CDHNU) em Genebra, constitui uma imensa traição ao povo palestino.
Da mesma forma, essa infeliz e estúpida façanha favorece amplamente o objetivo de Israel de encobrir os crimes de cunho nazista que seu exército de ocupação perpetrou durante sua criminosa guerra contra a Faixa de Gaza nove meses atrás.
Se o CDHNU tivesse referendado o informe, talvez tivesse aplanado o caminho para levar a julgamento os criminosos de guerra israelenses perante a Corte Penal Internacional (CPI) em Haia.
A AP ofereceu uma pletora de pretextos mendazes para justificar o ato escandaloso que muitos palestinos, tanto pessoas comuns como intelectuais, têm descrito como uma exibição de traição nacional.
Sem dúvida, os palestinos tinham do seu lado a maioria de 33-35 estados membros dos 47 que integram o Conselho, o que significa que o CDHNU poderia ter apoiado facilmente o informe da Comissão Goldstone podendo-o levar à Corte Penal Internacional.
Portanto, a única interpretação realista da decisão da AP de adiar a votação do informe é que o regime de Ramallah só queria aplacar Israel e a administração Obama, apesar dos efeitos desastrosos e das conseqüências que seu gesto teria para a causa palestina, e, sobretudo, pelas abandonadas vítimas dos crimes de guerra israelenses na Faixa de Gaza.
Bom, se Israel pode se sair bem após assassinar 1.300 palestinos e destruir completamente metade de Gaza, o próximo holocausto, provavelmente, vai assumir proporções européias. Afinal, o mundo não pode ser mais palestino do que os próprios palestinos.
Há informes pelos quais, antes de tomar esta decisão, o Presidente Obama interveio pessoalmente e por baixo do pano para pedir aos líderes da AP que deixassem de pressionar a favor do endosso do informe porque, para ele, isso implicaria em minar os “esforços diplomáticos”.
Da mesma forma, outro informe indicava que a AP havia feito um acordo com Israel pelo qual o regime da apartheid sionista havia acordado conceder uma licença para uma empresa que pertence em parte a uma série de ricos homens de negócios vinculados à AP em troca do adiamento da discussão do informe Goldstone no CDHNU.
Citou-se o embaixador da AP nas Nações Unidas em Genebra, Ibrahim Khreishi, dizendo que a liderança palestina estava interessada num “texto pactuado”. “Vai nos ajudar a explicar aos israelenses que a comunidade internacional está com os palestinos para que consigam suas esperanças e sonhos”.
Que estupidez! Após mais de 42 anos de criminosa ocupação militar, ainda temos que explicar o nosso sofrimento aos israelenses?
O senhor Khreishi realmente acha que uma “explicação convincente” é tudo o que os israelenses precisam para desistir de seus crimes nazistas contra o nosso povo?
O embaixador da OLP acredita que um “texto pactuado” conseguirá fazer com que os desprezíveis criminosos de guerra de Tel Aviv reconsiderem sua atitude criminosa diante dos palestinos?
E, seja como for, o que significa um “texto pactuado”? Acaso isso se deve ao fato de Israel não ter cometido conscientemente seus crimes de guerra e contra a humanidade, de forma intencional e deliberada, contra um povo inocente na Faixa de Gaza?
É porque Israel não derramou uma orgia de mortes ao utilizar toda a letal tecnologia de ponta estadunidense sobre bairros indefesos de civis, assassinando e mutilando milhares de homens, mulheres e crianças inocentes?
Acaso Israel não inundou com fósforo branco grande áreas de Gaza, incinerando toda a vida inocente neste território costeiro?
Será que não foi deliberada e conscientemente que Israel cuspiu uma infinidade de bombas de longas distâncias contra casas, mesquitas, faculdades, hospitais e escolas de toda Gaza?
Então, como é que qualquer ser humano com um pingo de honestidade e moralidade pode estar tratando fazer com que esses crimes pareçam menos vis e menos satânicos buscando um acordo para adotar um “texto pactuado”?
Entre todos os povos do mundo, nós palestinos devemos chamar o pão de pão e o vinho de vinho e não colocar um cheque em branco nas mãos daqueles que nos arrasam, atormentam e assassinam nossas crianças.
O exército, a marinha e a força aérea judeu-nazista têm assassinado em massa o nosso povo em Gaza e Cisjordânia. Cometeram seus crimes horrendos à luz do dia e sob o olhar de todos. Não houve atenuantes nem relatos contraditórios quanto ao que realmente ocorreu. Os supostos “Foguetes Qassam” não passaram de uma falácia e não deveriam aparecer na mesma frase junto à atroz máquina de morte israelense, pois, em ambos os casos, jamais se pode comparar a enormidade e os limites.
E, sobretudo, a pessoa que preparou o informe, Richard Goldstone, é judeu, e, atualmente, é um judeu sionista que nunca aumentaria nem exageraria esses crimes de guerra contra um povo prática e totalmente indefeso cuja própria sobrevivência física têm dependido sempre, e continua dependendo, da boa vontade da comunidade internacional.
Portanto, o povo palestino, as vítimas que há mais tempo vêm sofrendo um racismo genocida, e todo o mundo livre em volta de nós gostariam de saber o que é que faz com que os líderes palestinos em Ramallah e seu desorientado embaixador em Genebra se arrastem de forma tão submissa diante das pressões sionistas.
Será que vocês não têm um pingo de honra e de dignidade nacional? Afinal estamos falando de autênticos crimes e de centenas de crianças assassinadas sem piedade pelo exército desses matutos porta-vozes do sionismo que agora estão fanfarronando de forma vergonhosa de ter conseguido fazer com que o embaixador da AP colabore com eles na propaganda de Israel.
Contudo, provavelmente, é injusto jogar toda a culpa em Khreishi, um mero funcionário que tinha de atender as estúpidas instruções de Ramallah.
Sendo assim, Khreishi deveria ter se demitido no lugar de prestar-se a integrar este ignominioso ato de traição nacional. Mas, desde já, o vilão responsável é o ‘judenrat’ (*) palestino em Ramallah, acostumado a sacrificar os interesses nacionais palestinos para aplacar Israel e contentar a administração Obama, confiando assim na possibilidade de conseguir algum tipo de “recompensa”.
Contudo, é interessante que a única “recompensa” que a AP recebeu, e da qual somos testemunhas há muito tempo, é a de novas expansões dos assentamentos judaicos pela Cisjordânia, mais provocações judaicas na mesquita de Al-Aqsa e mais violência e terror judaicos contra cidadãos palestinos indefesos tanto na Cisjordânia como na Faixa de Gaza.
E, quanto à administração Obama, também tem “premiado” a AP por sua perfídia e traição do seu próprio povo afastando o olhar da expansão dos assentamentos israelenses e insistindo em que a AP deve retomar as negociações com o arrogante governo de Benjamin Netanyahu sem nenhuma pré-condição.
Bom, quem não respeita a si mesmo não merece respeito dos demais. Além disso, uma autoridade que martiriza, tortura e mata seus próprios cidadãos para agradar ao ocupante israelense e obter dele um atestado de boa conduta está totalmente desqualificada para representar de verdade o povo palestino.
Por último, pode-se assumir com toda probabilidade que a AP tem tanto medo quanto Israel de uma discussão rigorosa do informe Goldstone.
De acordo com determinadas fontes, a AP tem instado sistematicamente Israel para que levasse até o fim sua criminosa guerra contra Gaza para esmagar Hamás.
Então, é muito provável que a AP esteja se encontrando numa situação bastante embaraçosa, que explicaria porque quer que, durante muito tempo, não se leve ao fim uma discussão pública sobre o informe Goldstone, porque isso revelaria segredos cabeludos e embaraçosos sobre a conivência da AP com Israel no massacre nazista perpetrado contra a Faixa de Gaza.
(*) Judenrat, é o termo que, em alemão, designava os conselhos judaicos de governo dos guetos que os nazistas criaram em vários lugares e, sobretudo, na região da Polônia ocupada, mas não anexada pela Alemanha.
PEDEM QUE O PRESIDENTE ABBAS RENUNCIE.
Palestinian Information Post, 16/10/2009.
Apesar de a Autoridade Nacional Palestina (ANP) tentar, desesperadamente, conter a avalanche política causada pela retirada do seu apoio ao ‘Informe Goldstone’ da ONU, no dia 02 de outubro, sobre crimes de guerra cometidos por Israel em Gaza, ontem, dia 15/10, se viu obrigada a aceitar de começar o debate na Comissão de Direitos Humanos da ONU em Genebra.
Com grandes manifestações de Ramallah a Gaza, a sociedade civil palestina condenou unanimemente a ANP, seu presidente Mahmoud Abbas, o chanceler Riad Malki e o embaixador Ibrahim Khreishi, pedindo suas renúncias e o julgamento pelo colaboracionismo com Israel. Além disso, acusaram Abbas de ter colaborado com a invasão israelense em Gaza e de colaborar com Sharon para envenenar o presidente Yasser Arafat.
O Alto Comissário de Direitos Humanos da ONU, Richard Falk, disse que: “a Autoridade Palestina em Ramallah traiu o seu próprio povo no momento em que a comunidade internacional estava preste a aprovar o ‘Informe Goldstone’ acusando Israel de crimes de guerra em Gaza. Era oportuno reivindicar a luta palestina”. E lamentou que o fato de “seu representante na ONU ter minado este informe é uma revelação assombrosa” (Al-Jazeera 08/10/2009).
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